quarta-feira, 18 de agosto de 2010



Sonhos de Negro- Jorge Amado

 

Eram sons de batuque que desciam de todos os morros, sons que do outro lado do mar, haviam sido sons guerreiros. Batuque que resoavam para anunciar combates e caçadas.
Hoje eram sons de súplica, vozes escravas pedindo socorro, legiões de negros de mãos estendidas para o céus.alguns daqueles pretos que já tinham a carapinha branca guardavam nas costas marcas de chicote. Hoje as macumbas e candomblés enviavam aqueles sons perdidos.
Era como uma mensagem a todos os negros, negros que na África ainda combatiam ou caçavam, ou negros que gemiam sob os chocotes dos brancos.
Sons de batuque que vinham dos morros. Se dirigiam também angustiados e confusos, sons religiosos, sons guerreiros, sons de escravos. Ao negro que estava estendido na areia do cais, os sons lhe entravam pelos ouvidos e buliam com o ódio surdo que vivia dentro dele.
O negro se rolava na areia desesperado, nunca tivera uma angustia tão grande.
Ódio que se revolvia dentro dele, via fulas de negros, via negros marcados nas costas pelos chicotes, via negras terem filhos mulatos de senhores brancos, via Zumbi de Palmares transformar batuque de escravos em batuque de guerreiros, via negro nobre e sereno dizendo conceitos ao povo escravo, via a si próprio se levantando contra homem branco.


Jorge Amado


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Marilia.